sexta-feira, 27 de julho de 2012

Na cozinha, com prazer

Cresci em um ambiente bastante acolhedor. Família grande: pai, mãe, cinco filhas. Sim. Cinco. E  todas mulheres. Imagina que loucura. Minha mãe é daquelas bem tradicionais – no sentido de que sempre cumpriu, e com muita galhardia, aquelas funções atribuídas , secularmente, às mulheres. Sempre foi excessivamente preocupada conosco, superprotetora no sentido mesmo da palavra. E excelente cozinheira. Do tipo que, em  minutos, transforma um pedaço de queijo duro, há dias mofando na geladeira, em um delicioso casulo – para nossa alegria.

Lembro-me, como se fosse hoje, de um biscoito frito de polvilho que ela fazia  - e com o qual, por vezes, se queimava - , que nos levava a ficar em torno dela, aguardando-os chegar à mesa. Era uma disputa feia. De tão gostosos, desconfio que não dava nem para ela provar. Além dele, havia os bolinhos de chuva, a rosca doce quentinha, com manteiga por cima, enfim uma infinidade de sabores que nos levou a gostar de comer ( muito, infelizmente) e também de fazer. Em nossa casa, o italiano era meu pai, mas de cozinha ele não entendia muito bem. Porém,  foi com ele que aprendemos a apreciar um café forte e encorpado, bem distante daqueles ralinhos que são costume de muita gente. E a tomar café da manhã, já que ele, todos os dias,  buscava pães fresquinhos para nós. Doce lembrança!
E foi assim, nesse ambiente de muitos cheiros e sabores, que minha mãe acabou passando para nós, suas filhas, o seu talento para a cozinha. Nós cinco, ainda que trabalhemos fora, cuidemos de casa e façamos outras milhares de coisas – como a grande maioria das mulheres modernas -, também cozinhamos. E bem – modéstia à parte. Somos daquelas que sabemos fazer o trivial, o trivial mais elaborado , além se sermos boas quituteiras também, do tipo que faz bolos, pães de queijo, pão de batata (hein, Brendinha), rosquinhas e biscoitos de polvilho. Como boas filhas das Minas Gerais, adoramos todas essas coisas e, talvez por isso, tenhamos aprendido a  fazer. Se depender de nós, as tradições de nossa culinária permanecerão por muitas gerações.

Eu, por exemplo, gosto, cada dia mais, de ir pra cozinha. Em dias de semana, em virtude dos compromissos de trabalho, a tarefa fica a cargo de Dorvalina, minha empregada e cozinheira de mão cheia. Cozinha divinamente bem. Nos fins de semana, sou eu quem pilota o fogão , preparando do café da manhã ao lanche da tarde, sempre com alguma guloseima que agrade a meu marido, a minha filha, às enteadas e à neta. E aí, não tem pra ninguém: meu biscoito de polvilho é campeão. Assado, sequinho, na medida pra ser servido com um cafezinho. Só de pensar, me dá água na boca.
Esta receita não é criação minha. Infelizmente. É tão fácil e saborosa que gostaria de ter sido a sua criadora. Mas não é o caso. Encontrei-a na internet. Imprimi e a guardo como um tesouro. Se bem que nem é preciso. Sei de cor e salteado.O grande perigo de fazê-la é que a gente perde a noção de quanto comeu. Em tempos de dieta, colesterol alto e outros blá-blá-blás, saboreá-los chega a dar uma dorzinha na consciência. Que passa logo, afirmo com sinceridade. O seu delicioso sabor compensa tudo. Afinal, não se come todo dia, não é mesmo?
E pra você que quer se aventurar em uma receita prática, fácil e de sucesso garantido, aqui vão os ingredientes e o modo de preparo. Esteja pronta para receber os elogios. Eles certamente virão.

BISCOITO DE POLVILHO ASSADO

INGREDIENTES

½ quilo de polvilho (de sua preferência)

1 copo pequeno (tipo Lagoinha) de óleo

1 copo pequeno (tipo Lagoinha) de leite

1 colher de sopa (rasa) de sal

1 copo pequeno (tipo Lagoinha) de água

1 ovo

MODO DE PREPARO

Despejar o polvilho e o sal em uma vasilha e misturar bem. Colocar o leite e o óleo em uma panela, misturá-los e levar ao fogo até ferver. Assim que levantar fervura, desligar e jogar sobre o polvilho com o sal. Misturar bem. Acrescentar o ovo. Continuar misturando. Aos poucos, ir colocando a água até dar uma consistência boa o bastante para a massa ser colocada dentro daqueles sacos de confeitar. Prepare alguns tabuleiros e vá, sobre eles, espremendo a massa, na forma que você preferir. Leve para assar em forno bem quente de 10 a 15 minutos. Depois, é só tirar do forno e comer. Não vai sobrar um pra contar a história. Rende, em média, 40 biscoitos.

DICA: Se você não tiver o saco de confeitar, pegue o saquinho de leite e faça um corte médio em uma das extremidades. Dá na mesma. Ou então, filtros de papel, ainda mais práticos, pois já vêm com furo.




terça-feira, 10 de julho de 2012

Da arte de fazer amigos

 Tenho 250 "amigos" no Facebook. Não me pergunte como cheguei a esse número, grande demais para as parcas 24 horas que compõem o meu dia.Teria que me multiplicar para dar conta de ser, de fato, amiga de todos eles. Ainda que virtualmente. Já que curtir e comentar as publicações dos "amigos" demanda, além de vontade e disposição, uma dose generosa de tempo. Muitos, claro, eu conheço pessoalmente, fazem parte do meu convívio familiar, profissional e social.

Ali, no espaço virtual, tenho a possibilidade de estar também com eles, partilhando coisas de que gosto e apreciando o que eles têm de novo a me oferecer naquele ambiente. Reencontrar amigos de infância, ex-alunos, colegas de trabalho, familiares distantes; saber o que têm feito, o que fizeram, como estão; descobrir  que tipo de comida apreciam, a que restaurantes vão, a que gênero de filme assistem; se casaram, tiveram filhos, separaram; se viajam muito, se estão de férias, se parecem felizes... enfim,  saber de pequenas coisas que, afinal, compõem o dia a dia de todos os mortais, mas das quais dificilmente saberíamos se a pessoa em questão não fosse muito íntima nossa e tivesse conosco uma relação bem próxima.

Pelo Facebook, reencontrei tantas pessoas queridas... Mesmo de longe, é uma forma de estar um pouco mais perto delas, partilhando pequenas intimidades. Gosto disso. Outras – mas aí já é outro caso – a gente adiciona como "amigo" por absoluta educação e constrangimento de uma negativa. É o  amigo do amigo, um parente muito, muito distante, um conhecido de alguém... Para esses casos, entretanto, sempre há uma solução, como acontece também no mundo real.Trata-se de pequenas estratégias  para nos poupar de ter que conviver, mesmo que virtualmente, com quem não queremos. Não vou revelar o que faço, claro. Mas que atire a primeira pedra quem nunca procedeu assim ou, pelo menos, nunca teve vontade.

Gosto, sim, destas novidades tecnológicas. E das possibilidades que elas criam diante das nossas limitações diárias. Porém, tenho a firme convicção de que nada, nada mesmo substitui o contato humano. O olho no olho. A risada escancarada da alegria do encontro. O abraço saudoso. A conversa animada, entremeada de boas lembranças, casos engraçados e muitas emoções. Quem vive a experiência de celebrar o que quer que seja com quem ama sabe o valor que têm esses momentos.Que se tornam ainda mais intensos partilhados em torno de uma mesa farta e acolhedora, bem ao gosto de nossa tradição brasileira.

Ao longo de minha vida, tenho conhecido muitas pessoas.  Não poderia ser diferente, tendo traçado uma história com experiências as mais diversas. Alguns convívios, certamente, se deram, e ainda se dão,  por convenções sociais, meras exigências da vida em sociedade. Nada acrescentaram, mas também nada pesaram em minha trajetória. São pessoas que por mim passaram, sem deixar vestígios ou saudades.Outras  marcaram uma época, sendo presença constante em minhas lembranças e compondo o vasto repertório de minha memória afetiva. E algumas...algumas marcaram ( e continuam marcando) minha vida para sempre.

E digo isso porque nunca fui uma pessoa de muitos amigos. Mesmo na juventude, quando essa é a realidade mais comum, eu parecia destoar da multidão. Mais reservada e sem vocação para a  popularidade, gostava mesmo era da segurança e do conforto proporcionados por aqueles que me faziam sentir bem. Nunca abri muitos espaços, exatamente porque nunca desejei muitas presenças. E sou assim até hoje: bastante seletiva. Mas quem eu permiti entrar não saiu jamais de minha vida. Ainda que a distância  teimasse em nos separar.

Exatamente assim aconteceu com as minhas amigas Gisele e Miriam.  Mesmo tendo ficado longos períodos sem nos encontrar, nada mudou entre nós. São daquelas pessoas de quem  sempre me lembro, embora, às vezes, me esqueça de ligar no dia do aniversário. Ou de telefonar pra dar um "alô". Ou fique longo período sem dar sinal algum. Eu sou assim. Meio "desligada". Mas inteiramente fiel àqueles que me são queridos. E elas sabem disso. E tenho certeza de que sabem também que isso não significa menos amor e comprometimento. Como diz a música, é  só meu "jeito meio estúpido  de ser".

O mais interessante de tudo isso é que, quando a gente se encontra, é como se tivesse se visto no dia anterior. Tudo continua exatamente igual. Não há cobranças, nem ressentimentos, o que traz sempre uma grande leveza aos momentos que passamos juntas - os quais, aliás, têm se tornado muito frequentes. Graças a Deus! Acho que o segredo de uma boa e verdadeira amizade é o mesmo de qualquer relacionamento: o desejo de estar junto, de querer o outro como companhia. Para rir,  conversar, comer, tomar vinho, chorar as mágoas... ou qualquer outra coisa que se deseje. Minhas amigas são poucas e boas. E Gisele e Miriam são protagonistas desse time. Sorte a minha tê-las encontrado pelo caminho.



segunda-feira, 21 de maio de 2012

Ei! Psiu! Eu estou aqui!

Não sou uma especialista na arte de gerenciar pessoas, estou longe disso. Mas sou uma observadora  de comportamentos. E devo dizer que ando um tantinho preocupada com o que tenho visto e vivido. Não são poucas as vezes em que deparamos com situações em que temos que exercitar - no limite, diga-se de passagem - a nossa paciência.Ou corremos o sério risco de perder o controle e sair por aí esbofetendo um desafeto, jurando de morte um opositor ou, até quem sabe,  estrangulando alguém numa esquina. Exageros à parte, não anda fácil o nosso desafio de nos relacionar, sobretudo com quem mal conhecemos. Até porque ninguém anda colaborando muito pra isso não.

Há poucos dias, na fila para pagar umas compras em uma grande loja de decoração e produtos para casa, observei a atendente do caixa parada, ignorando, por completo, a fila que se formava a partir de mim. Ela admirava as próprias unhas, sendo incapaz de levantar o olhar para ver se já havia pessoas precisando de atendimento. Fiz-lhe um gesto, e ela, com cara de poucos amigos, acenou para que eu me dirigisse ao caixa. Assim que cheguei, dei-lhe boa-tarde, mas não fui correspondida. Com a mesma má vontade com que me chamou, ela continuou o seu "ofício", ignorando as observações que eu lhe fazia ou fazendo pouco caso delas.Cumpriu  a sua obrigação de passar os produtos, esquecendo-se de interagir com a pessoa que ali estava. É o tipo de funcionário "dispensa cliente", que, a meu ver, se não compromete o trabalho, colabora para uma imagem negativa de qualquer lugar.

Recentemente, chegando ao consultório da cardiologista para uma consulta  marcada há um ano, recebi da recepcionista a informação de que não havia atendimento naquele horário, já que ela só trabalhava ali  na parte da tarde . Sem querer acreditar que aquilo fosse verdade, tentei argumentar, dizendo que eu tinha um cartão com a marcação feita pela atendente. Visivelmente constrangida, a moça se desculpou, alegando uma troca da funcionária da recepção, fato que acabou gerando marcações erradas na agenda da médica. Inacreditavelmente, fui embora para casa, sem ter muito o que fazer. A não ser, marcar nova consulta para dali um mês.O que me restava? Gritar? Fazer um escândalo? Agredir a moça? A "doutora"? Vontade não faltou; coragem, sim. Tenho horror a cenas, baixarias e coisas do tipo. Porém,  a maior das deselegâncias  ficou a cargo das pessoas do próprio consultório. Médica e colaboradora. Desconsideração comigo, com meu tempo, com meus compromissos, com minha vida.

Casos como esse  se repetem todos os dias. Nos  consultórios e hospitais - públicos e privados. Sim, porque a negligência e a falta de comprometimento não são "privilégios" de uma classe social. Estão em todos os lugares. Todos os dias. A qualquer hora. E deparamos com elas no trânsito caótico e pouco civilizado. Na fila interminável do banco. No funcionário que se ausenta, e não comunica. No olhar irônico do atendente. Ou do cliente. Na descaso diante de uma reclamação. Na desconsideração com a nossa pessoa e a nossa história. A impressão que dá é que estamos todos num "ringue", cada um lutando pra defender o seu. Como se o outro fosse o nosso inimigo.Atingimos o ápice do individualismo, sendo levados a crer que não existe ninguém mais importante que nós mesmos. E nessa firme convicção, esquecemos de olhar quem está diante de nós.Alguém que espera. Enfrenta trânsito, fila. Luta pra chegar a tempo. Esforça-se pra construir algo.Economiza pra adquirir um bem. Histórias por trás dos fatos que ninguém leva em consideração antes de desferir a "flecha" da indiferença.

Precisamos mudar o curso desta história, voltando a observar direitos e a cumprir deveres. Por exemplo: de exercer, com responsabilidade e compromisso, o nosso ofício, seja ele qual for. De honrar a palavra dada, ainda que não documentada. De cumprir horários,  numa atitude de respeito com quem nos espera.De atender bem quem nos procura e anseia por nossa ajuda e orientação. De terminar um trabalho iniciado, e com prazo de entrega, antes de sairmos tresloucados diante do relógio que marca o fim do expediente. De não viajar no feriado, sim, se a  responsabilidade nos chama. Enfim, sermos capazes de uma atitude firme e responsável, ainda que o mundo inteiro diga que as coisas não funcionam mais assim.

Comprometer-nos mais com as coisas e as pessoas é um pequeno grande passo.Que pode dar início a histórias diferentes das que temos assistido e vivido por aí. Sim, o mundo mudou. E não foi pouco. Mas algumas regras e comportamentos são atemporais. Não saem de moda nunca. E, mais que isso, são uma exigência para que a roda do mundo comece a girar pra uma nova  e mais tranquila direção.







segunda-feira, 7 de maio de 2012

Campanha contra a chatice


Há algum tempo, venho observando, no Facebook, o crescimento de campanhas a favor da língua portuguesa, com o intuito de "ensinar" as pessoas a escreverem melhor. Ou direito. Sei lá. Coisas do tipo. Gente tentando "corrigir" quem comete algum desvio em relação à norma culta.  Pessoas que se sentem autorizadas a dizer pra outras que "de repente" se escreve separado, que "intaum não é "então", que "ansiedade" se escreve com "s" e por aí vai. Gente que aconselha outras a usarem o "Pai dos Burros" antes de escrever "bobagem" em sua página. Ô pessoal, menos, né... Arrogância tem limite. E chatice também.

 

Conforme muitos sabem, fui, durante muitos anos, professora de língua portuguesa. Há quatro fora das salas de aula, hoje me dedico quase que exclusivamente ao trabalho de revisão para revistas, periódicos e afins. Sou uma "caçadora" de erros, já que o meu trabalho exige que eu não os deixe passar. Sob hipótese alguma. É para isso que eu sou contratada. E bem remunerada. Graças a Deus! Estou falando de revistas que levam o nome de suas empresas, divulgam o trabalho que elas realizam e têm, claro, um compromisso com a qualidade de seus textos em todos os sentidos. São muitos os profissionais envolvidos para levar conteúdo de boa qualidade ao público a que se destinam. E, aí, claro, o rigor com as normas da língua se faz mais que necessário. É preciso estar atento a tudo para que o resultado final seja o melhor possível.

 

Porém, seja qual for o texto a ser escrito, é muito importante que sejam observadas as condições de produção. A quem ele se destina? Com que finalidade está sendo escrito? Onde será publicado? Qual será o gênero (crônica, artigo de opinião, conto, reportagem, notícia, bilhete, e-mail...)? Antes de começar a escrever o que quer que seja, é importante que isso esteja claro para o "autor", para que ele possa, enfim, dar início à redação do que se propôs. Não há um jeito único de escrever; antes, é preciso observar quais são as condições em que o texto será escrito. Do contrário, corre-se o risco de produzir algo inadequado, desinteressante e sem propósito  para quem vai ler. Um mesmo conteúdo, dependendo das condições expostas acima, vai ser tratado de formas muito diferentes. Sem que haja, necessariamente, uma melhor que a outra. 

 

O ambiente virtual tem características muitas peculiares e curiosas. Por ser dinâmico, a agilidade é uma de suas principais marcas. Em função disso, a economia de letras e palavras tornou-se um traço marcante. Abrevia-se muito, os acentos são, por vezes, esquecidos, códigos próprios de escrita são criados a todo instante. Curiosamente, a despeito do grau de escolaridade, da condição social ou de qualquer outro aspecto diferenciador, ali, dentro daquele espaço, todos se entendem. Por mais erudita que seja a formação de um "amigo", nas redes sociais, ele é igual a todo mundo. As diferenças acabam se dissipando. Eu mesma, apesar do trabalho "fiscalizador" que tenho, em minhas postagens, abrevio, uso muitas reticências, exclamações, repito várias vezes uma mesma letra para dar ênfase a algo que desejo ( Creeeeeeeedo!!!!!)...Só não cometo desvios ortográficos porque conheço o idioma. Caso tenha dúvidas, troco a palavra por outra ou pesquiso no dicionário. Sim, eu o consulto quase que diariamente. Várias vezes. Afinal, ele não é um livro para ser lido, mas consultado sempre que necessário.

 

Em função disso, sinto-me extremamente incomodada com essa patrulha dos pseudofiscais da língua que se instalaram no Facebook Pessoas que corrigem anonimamente outras numa postagem, porém, na seguinte, deixam de concordar verbo com sujeito. Até porque, na maioria das vezes, conhecem pouco o próprio idioma – embora se sintam muito confortáveis em dar lições e fazer repreensões públicas. Não estou aqui defendendo que saiamos por aí cometendo infrações linguísticas. Ou que passemos todos a escrever sem observar a norma padrão. Claro que não. Certamente, os códigos linguísticos empregados nas redes sociais mostram-se inadequados para serem usados fora delas. Mas, dentro do ambiente virtual, funcionam.Se você, assim como eu, não quer escrever nada errado, faça um esforço para isso. Pense antes de escrever e, se possível, releia pra ver se está tudo "dentro dos conformes". Entretanto, deixe as lições de boa escrita guardadas para você. Contenha-se. O mundo já tem chatos demais pra você querer aumentar as estatísticas.

 



segunda-feira, 23 de abril de 2012

Cuidando da nossa imagem

Li, há poucos dias, em uma revista voltada para o público executivo, uma matéria sobre uma prática que vem se tornando bastante comum no ambiente corporativo: "bisbilhotar" as redes sociais, com a finalidade de verificar tipos de postagens feitas por candidatos a vagas nas organizações. Pretende-se, com isso, analisar o teor das publicações, descobrir se o candidato em questão costuma postar conteúdos de caráter preconceituoso, difamatório, irresponsável, revanchista ou qualquer coisa nesse sentido. Sim, porque o Twitter, o Facebook, os Blogs e demais mídias, com certeza, dizem muito do que somos e pensamos.E como dizem!

Se você acompanhar, ainda que por pouco tempo, a minha página no facebook, saberá que sou cruzeirense – claro!, católica, tô sempre mais à esquerda – politicamente falando, abomino gente preconceituosa – principalmente aquelas que destilam veneno pelas entrelinhas, sei algumas coisas da língua portuguesa, namoro meu marido até hoje e tenho um amor descomunal pela minha filha. E tantas outras coisas que, mesmo sem ser colocadas de forma explícita, podem ser percebidas pelo tipo de comentário que faço, pelas "curtidas" que dou ou pelos posts que publico.E o mesmo pode ser deduzido de cada "amigo" que  colecionamos pelos twitters e faces da vida.

Não é à toa que tem tanta "celebridade" aposentada precocemente por aí.Usam as redes sociais para expor seus pontos de vista, "detonam" colegas de profissão, políticos e quem o valha publicamente, ridicularizam pessoas públicas, usam e abusam do direito de livre expressão e, por não medirem a extensão de suas palavras, acabam sendo afastadas, gradualmente, de suas atividades. O canal que contratava demite, o outro já não quer mais o até então "talento", os comerciais vão rareando até se extinguirem por completo, e o anonimato, antes uma impossibilidade, vai se tornando cada vez mais real. E, pra voltar à mídia, só mesmo soltando frequentes "bombas" nas redes sociais, tornando-se, assim, notícia novamente, ainda que por migalhas de segundos. É o preço que se paga por se usar de um direito sem respeitar certos limites que se fazem, muitas vezes, necessários.

O Facebook, por exemplo, é terreno fértil para a análise de tipos os mais variados, que surgem ali a todo instante. Por meio das postagens de "amigos", conhecidos e afins, é possível identificar quem tá carente de amizade, de sexo, de amor. Quem tá "deprê", levou um fora, não dá sorte nos relacionamentos. Quem é a favor da palmada em criança, do trabalho infantil e adolescente (desde que não seja o filho dele), e da diminuição da maioridade penal para 16 anos. Quem adora falar mal do governo, chamar pra manifestação contra qualquer coisa (duvido que ele apareça) e protestar contra a corrupção no Brasil.Quem é evangélico, católico, espírita, ateu e agnóstico. Quem é muito ou pouco religioso. Quem detesta todas as religiões. Quem é homofóbico, não curte (ou diz que naõ curte) reality shows, novelas e tudo que é muito popular, mas ama (diz que ama) Clarice Lispector, Caio fernando Abreu e semelhantes.

Enfim, é possível  construir uma imagem a partir do que se lê sobre as postagens de alguém.Por mais inocentes e descompromissadas que elas sejam. Daí a necessidade de estarmos atentos a tudo que tornamos público nas redes sociais. Nem tudo o que pensamos ou fazemos precisa (ou deve) ser publicado. Pode depor contra nossa vida e reputação. As cãmeras estão ligadas. 24 horas por dia. Estão todos de olho em nós. Dando aquela espiadinha.Cabe a cada um decidir que imagem quer passar. Porque, não tenhamos dúvida, boa ou não, é ela que vai ficar.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Na esteira de Jesus



Impressionante como algumas coisas têm o poder de nos tocar, de nos sensibilizar, de mexer com as nossas emoções. Pode ser uma música. Um filme. Um poema. Uma palavra. Um gesto. Ou a visão do filho dormindo tranquilo em sua cama, protegido dos males e dos perigos do mundo. Diante da insensibilidade coletiva a que assistimos dia a dia, ser tocado por pequenas humanidades é ainda motivo de esperança. E de alegia.

Venho de uma família de tradição católica. Assim como todas as minhas irmãs, fui batizada, crismada,  fiz a Primeira Eucaristia, e só não recebi o sacramento do matrimônio porque não me casei na igreja. Como meu marido já havia sido casado, isso foi impedimento para que a cerimônia religiosa acontecesse. Porém, devo confessar: tenho uma vida familiar tão plena e feliz que  isso virou um mero detalhe. Do qual sequer me lembro..

Em meio à febre consumista que marca datas importantes do calendário cristão, acompanho, com entusiasmo, fé e interesse,  as comemorações religiosas, sobretudo as que envolvem Nascimento e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mais precisamente, Natal e Páscoa. Esta, sobretudo, desperta-me ainda mais emoção, talvez pela forte carga dramática que envolve a Paixão de Cristo. Seu calvário, suas dores tão humanas, o sofrimento de Maria, Sua, e nossa, mãe. Pensar no martírio de nosso Deus, na Sua entrega à missao recebida do Pai, a despeito de todos os seus medos e dores, leva-me a refletir sobre a minha vida cristã. Sobre até que ponto tenho semeado, neste mundo, o ideal de amor, de paz, de justiça e de fraternidade do Reino que Deus prometeu a todos nós.

Para mim, uma das celebrações mais emocionantes da Semana Santa é a do Lava-pés, que acontece, sempre, na quinta-feira santa. É uma cerimônia em que  a Igreja relembra o gesto de Jesus, que, durante o Última Ceia, abaixou-se e, em sinal de humildade,  lavou o pé de cada um de seus discípulos, enxugando-os com a toalha que trazia amarrada à cintura. Ele era (é) o filho de Deus. Ele era (é) Deus. Mas o Seu poder foi exercido para ajudar os outros, para socorrer quem era marginalizado e explorado. Colocou no centro aqueles que viviam à margem. Acostumadas que estavam a um poder que oprimia, discriminava e injustiçava, as pessoas não compreenderam o poderio do Rei que amava, curava, libertava e dignificava. E o colocaram numa cruz.

Quando assisto ao Lava-pés, e ali presencio a humildade do Senhor Jesus, sinto-me tocada. E, inevitavelmente, instigada a refletir sobre a arrogância, a soberba,  a insolência que permeiam muitas das atitudes que tomamos em nossa vida. No trabalho, na escola, na família, em todos os lugares por que passamos. Que nos levam, tantas vezes, a destratar alguém que trabalha para nós. A não cumprimentar quem acreditamos ser "pequenos" demais para receber um "bom-dia", um "obrigado" ou "por favor". A levantar a voz e ofender quem nos contrariou por algum motivo. A achar, enfim, que somos melhores que os outros.

Vivemos um momento delicado da história da humanidade. Marcado por profundas ausências: de ética, de caráter, de honestidade, de amor, de humildade. Onde a lógica é o prazer a qualquer custo, o sucesso sob quaisquer condições, o poder sob qualquer tipo de governança. O gesto  de humildade de Jesus na Última Ceia deve ser inspiração para todos nós. A ser lembrado todas as vezes em que nos sentirmos tentados a agir sob a lógica do mundo, e não imbuídos da fraternidade e da solidariedade que nos tornam mais irmãos e humanos. Ninguém precisa ter religião para isso. Apenas o sincero desejo de fazer diferença no mundo e na vida das pessoas.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Quem é o seu público-alvo?


Recentemente, na empresa de tecnologia em que trabalho, recebemos a visita de um consultor para assuntos de sustentabilidade. Precisávamos (continuamos precisando, e muito) construir um relatório de sustentabilidade e queríamos que ele nos assessorasse neste processo. Ao sentar-se conosco(comigo e com um colega), fez-nos a seguinte pergunta:
 – Quem é o público-alvo deste relatório?
Ou seja: ele queria saber para quem nos escreveríamos o relatório, quem seriam as pessoas que o leriam. Para quem nós pretendíamos divulgar os dados coletados . Informação importantíssima para quem, como nós, desejava tornar públicas as práticas sustentáveis da companhia.

Achei interessante a pergunta. E muito pertinente. Fui professora durante muitos anos. No início da carreira, trabalhei com crianças. Mais tarde, com adolescentes. Ao me dirigir para qualquer turma e dar uma aula, eu já sabia de antemão que tipo de aluno me esperava. Como eu teria que falar com ele. Como a matéria teria que ser explicada na turma X e na turmaY. Pessoas diferentes requerem estratégias diferentes. Sempre houve a preocupação de conhecer o meu público-alvo ao preparar uma aula, fosse ela de análise textual ou gramática. Uma mesma matéria pode ser dada para alunos de 3º  ou  7º ano do Ensino Fundamental e para os que se preparam para o vestibular. O que vai mudar é a estratégia que o educador vai usar para ministrar  o conteúdo em turmas com perfis tão diferentes. Ao saber quem é o público-alvo da sua aula, o professor vai pensar, inclusive, em que tipo de linguagem usar para explicar  o que pretende. E que profundidade dar ao assunto trabalhado.

Vai ministrar uma palestra ? Vai coordenar uma reunião de negócios? Vai  apresentar um evento? Comece, então, a pensar em quem será o seu público. Trate de traçar um perfil dele para que assim, munido de informações básicas, você consiga atingir mais facilmente o seu objetivo. Aliás, essa é a estratégia  de sobrevivência do jornalismo, da propaganda e da publicidade. A linguagem usada na revista Capricho, com certeza, é diferente da usada na Época. Assim como os assuntos. Quem escreve para adolescentes precisa abordar assuntos de interesse deles, numa linguagem em que eles se reconheçam. E o mesmo vale para as demais revistas e jornais. Um mesmo fato vai gerar matérias diferenciadas em um jornal de grande circulação nas classes A e B e em outro que tem maior alcance nas classes C e D. Com certeza. Do contrário, perdem-se leitores, e  muito dinheiro.

Ouco muitas pessoas reclamando que não sabem escrever, que têm dificuldade em se expressar, sobretudo por escrito. Acredito que podemos começar a mudar isso se tivermos como preocupação primeira a identificação de nosso público-alvo: quem é aquele que  vai ler o que eu vou escrever? O bilhete é para a empregada doméstica que pouco ou nada estudou? É para o filho adolescente? Para o marido romântico? Para o síndico do seu prédio? Esta é a regra número um da comunicação, oral ou escrita: conhecer o interlocutor. Pode nos dar pistas valiosíssimas sobre o outro a quem vamos nos dirigir.

E isso vale para tudo na vida, inclusive para a nossa relação com as pessoas. A escolha certa das palavras, do momento mais oportuno, da estratégia mais adequada pode nos conduzir a sucessos ou fracassos em nossa comunicação diária. Pessoas mais sensíveis podem receber com estranheza um comentário feito em tom irônico, que pode ter sido motivo de risos e brincadeiras  em um grupo mais desencanado. Um vocábulo mal escolhido e empregado pode desencadear desavenças e inimizades até mesmo em nosso círculo mais íntimo. Assim é o nosso viver cotidiano: cheio de códigos e  nuances. É fundamental estar atento a eles. Aprender  a decifrá-los com nossa inteligência e sensibilidade. Resgatar o respeito perdido na brutalidade de dias tão conturbados. E, nessa tarefa, a escolha da palavra pode ser um grande diferencial.