Cresci em um ambiente bastante
acolhedor. Família grande: pai, mãe, cinco filhas. Sim. Cinco. E todas mulheres. Imagina que loucura. Minha
mãe é daquelas bem tradicionais – no sentido de que sempre cumpriu, e com muita
galhardia, aquelas funções atribuídas , secularmente, às mulheres. Sempre foi
excessivamente preocupada conosco, superprotetora no sentido mesmo da palavra.
E excelente cozinheira. Do tipo que, em
minutos, transforma um pedaço de queijo duro, há dias mofando na
geladeira, em um delicioso casulo – para nossa alegria.
Lembro-me, como se fosse hoje, de um biscoito frito de polvilho que ela fazia - e com o qual, por vezes, se queimava - , que nos levava a ficar em torno dela, aguardando-os chegar à mesa. Era uma disputa feia. De tão gostosos, desconfio que não dava nem para ela provar. Além dele, havia os bolinhos de chuva, a rosca doce quentinha, com manteiga por cima, enfim uma infinidade de sabores que nos levou a gostar de comer ( muito, infelizmente) e também de fazer. Em nossa casa, o italiano era meu pai, mas de cozinha ele não entendia muito bem. Porém, foi com ele que aprendemos a apreciar um café forte e encorpado, bem distante daqueles ralinhos que são costume de muita gente. E a tomar café da manhã, já que ele, todos os dias, buscava pães fresquinhos para nós. Doce lembrança!
E foi assim, nesse ambiente de muitos cheiros e sabores, que minha mãe acabou passando para
nós, suas filhas, o seu talento para a cozinha. Nós cinco, ainda que
trabalhemos fora, cuidemos de casa e façamos outras milhares de coisas – como a
grande maioria das mulheres modernas -, também cozinhamos. E bem – modéstia à
parte. Somos daquelas que sabemos fazer o trivial, o trivial mais elaborado ,
além se sermos boas quituteiras também, do tipo que faz bolos, pães de queijo,
pão de batata (hein, Brendinha), rosquinhas e biscoitos de polvilho. Como boas filhas das Minas Gerais,
adoramos todas essas coisas e, talvez por isso, tenhamos aprendido a fazer. Se depender de nós, as tradições de
nossa culinária permanecerão por muitas gerações.
Eu, por exemplo, gosto, cada dia
mais, de ir pra cozinha. Em dias de semana, em virtude dos compromissos de trabalho, a tarefa fica a cargo de Dorvalina, minha empregada e cozinheira de
mão cheia. Cozinha divinamente bem. Nos fins de semana, sou eu
quem pilota o fogão , preparando do café da manhã ao lanche da tarde, sempre com
alguma guloseima que agrade a meu marido, a minha filha, às enteadas e à neta. E aí, não tem pra
ninguém: meu biscoito de polvilho é campeão. Assado, sequinho, na medida pra
ser servido com um cafezinho. Só de pensar, me dá água na boca.
Esta receita não é criação minha.
Infelizmente. É tão fácil e saborosa que gostaria de ter sido a sua criadora. Mas
não é o caso. Encontrei-a na internet. Imprimi e a guardo como um tesouro. Se
bem que nem é preciso. Sei de cor e salteado.O grande perigo de fazê-la é que a
gente perde a noção de quanto comeu. Em tempos de dieta, colesterol alto e
outros blá-blá-blás, saboreá-los chega a dar uma dorzinha na consciência. Que
passa logo, afirmo com sinceridade. O seu delicioso sabor compensa tudo. Afinal,
não se come todo dia, não é mesmo?
E pra você que quer se aventurar
em uma receita prática, fácil e de sucesso garantido, aqui vão os ingredientes
e o modo de preparo. Esteja pronta para receber os elogios. Eles certamente
virão.
BISCOITO DE POLVILHO ASSADO
INGREDIENTES
½ quilo de polvilho
(de sua preferência)
1 copo pequeno (tipo Lagoinha)
de óleo
1 copo pequeno (tipo Lagoinha)
de leite
1 colher de sopa
(rasa) de sal
1 copo pequeno (tipo Lagoinha)
de água
1 ovo
MODO DE PREPARO
Despejar o polvilho e o sal em uma vasilha e misturar bem. Colocar o
leite e o óleo em uma panela, misturá-los e levar ao fogo até ferver. Assim que
levantar fervura, desligar e jogar sobre o polvilho com o sal. Misturar bem.
Acrescentar o ovo. Continuar misturando. Aos poucos, ir colocando a água até
dar uma consistência boa o bastante para a massa ser colocada dentro daqueles
sacos de confeitar. Prepare alguns tabuleiros e vá, sobre eles, espremendo a
massa, na forma que você preferir. Leve para assar em forno bem quente de 10 a
15 minutos. Depois, é só tirar do forno e comer. Não vai sobrar um pra contar a
história. Rende, em média, 40 biscoitos.
DICA: Se você não tiver o saco de confeitar, pegue o saquinho de leite
e faça um corte médio em uma das extremidades. Dá na mesma. Ou então, filtros
de papel, ainda mais práticos, pois já vêm com furo.